quarta-feira, 16 de março de 2011

Pássaros.

     Já era tarde da noite quando ouvi algo semelhante a um bater de asas, próximo a minha janela. Não liguei muito para isso, apenas continuei deitado pensando em como foi deprimente o meu dia.
     Aquele bater de asas continuava, ficava cada vez mais forte, me levantei e fui abrir a janela para saber o que lá fora havia. Porém eu nada achei. Tudo que vi foi minha triste vizinhança.
     Deitei-me de novo, e de novo o bater de asas apareceu, mas dessa vez, junto com batidas na minha janela, o som assemelhava-se a bicadas. “Não era possível!” eu exclamei. Em pleno vigésimo andar um pássaro que não tem o que fazer veio me tirar o sono?
     Levantei de um pulo e abri a janela ferozmente gritando “Saia, sua ave maldita!” Porém nada lá havia. E novamente, cada vez mais o barulho aumentava. Perdi a noite inteira de sono.
     Fui trabalhar cansado e irritado, a ponto de explodir. Entrei no meu escritório e comecei o que eu tinha que fazer, porém aquele bater de asas me perseguiu até lá, e junto dele, as bicadas na janela.
     A tensão só ia aumentando, os tic-tacs do relógio iam me consumindo, todo aquele barulho infernal, e apenas eu parecia ouvir. As pessoas ao meu redor ou não se incomodavam com o barulho ou não o ouviam... ”Por que eu?“ Eu me perguntava.
     Enfim, a dolorosa jornada de oito horas de sofrimento dentro do meu escritório acabou, fui pegar meu carro no estacionamento e peguei o caminho de volta para casa. Já na estrada, comecei a ouvir um som, como se alguém estivesse me seguindo, mas não de carro ou moto, mas sim voando, o bater de asas estava de volta. Não sei por qual motivo, mas ele me perseguia.
     Ao chegar em casa fui tomar um banho para tentar esfriar a cabeça, eu só precisa dormir, ou pelo menos era isso que eu pensava. Tomei um calmante e me deitei. Logo dormi, e até sonhei. Achei que meu problema estava resolvido, era apenas falta de sono. Levantei disposto de manhã e fui preparar um café, quando ouvi: “Pic... pic... pic...”
     Parecia ter algo bicando o interior do meu armário, corri para abrir o mais rápido que pude, para tentar ver o que causava tal barulho, porém tudo que encontrei foram xícaras, e nada mais. A teoria da falta de sono já não estava mais funcionando.
     Liguei para o meu chefe e pedi uns dias de folga; fui até uma psicóloga e contei-a tudo que estava acontecendo comigo. ”Você só precisa dormir.” Ela dizia. Eu discordava sempre que ela dizia disso, pois acabara de ter uma excelente noite de sono. Mas ela insistia, até me receitou alguns calmantes.
     Voltei para casa. Novamente tomei um banho e depois um calmante. Deitei-me e dormi como um anjo. Acordei outra vez disposto, porém, o bater de asas que tanto ouvia, junto com as bicadas na janela, não voltaram sozinhos. Comecei a ouvir, vindos do meu banheiro, uns grunhidos estridentes.
     Já estava ficando insuportável, digo, já havia ficado há muito tempo. Agora estava pior que insuportável.
     Não conseguia mais agüentar, aquele barulho só poderia ter vindo das profundezas do inferno, sendo enviado pelo próprio Hades.
     Os grunhidos e as bicadas iam aumentando exponencialmente, o que antes parecia ser o barulho de apenas um pássaro havia se tornado o barulho de um bando. E as bicadas, antes nas janelas, agora eram dentro da minha cabeça.
     Eu precisava de ajuda, seja qual fosse, médica, espiritual, etc. Eu só queria livrar-me daquele horror, que tanto me afligia.
     Fui à igreja, ao hospital, e nada. Nada resolvia meu problema, aparentemente, não existia um problema. Para onde eu fosse aqueles “pássaros invisíveis e infernais” me perseguiam.
     Voltei para minha casa, tomei um banho e um calmante. Porém dessa vez o barulho das bicadas na janela não me deixaram dormir. Levantei e fechei a cortina. Mas ele só aumentava. Já sem paciência, sem nervos, sem ânimo para viver, me desesperei, e gritando “saiam daqui, seus pássaros infernais” me atirei pela janela, pensando eu que o barulho do vidro sendo quebrado fosse afastá-los...
     Foi então que, durante a queda ouvi: “TRIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMM.”
     Era o meu despertador me acordando. Nada daquilo passou de um sonho, eu pensei contente. Levantei-me mais disposto do que nunca e fui até a cozinha preparar um café, quando ouvi um barulho vindo de dentro do meu armário: “Pic... pic... pic... pic...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário