quarta-feira, 16 de março de 2011

A Estranha Poção do Dr. Litz.

     Faziam poucos meses que eu havia me mudado para minha nova casa. Ela era enorme e assustadora, fonte de diversas histórias de horror, deve ser pelo fato de o antigo dono ter sido um solitário cientista, Dr. Hanz Litz, era o seu nome.
     O Dr. Litz havia montado na casa uma enorme biblioteca, mas ela era tão antiga que fedia a mofo, e praticamente ninguém conseguia passar muito tempo lá dentro.
     Ouvi diversas histórias tenebrosas sobre a casa e seu ex dono, a mais famosa era que dentro dela havia um laboratório secreto, onde o Dr. Litz fazia experiências macabras com cadáveres. Que besteira! Eu pensava. Mas até achava interessante morar na casa que pertenceu ao “Dr. Frankenstein”. As crianças não chegavam nem perto da casa, e os vizinhos não me importunavam.
     Certo dia, caminhado pelos inúmeros cômodos da casa, encontrei o diário pessoal do Dr. Litz. Comecei a ler (não seria falta de educação, ela já estava morto mesmo), nossa... como aquele cara era sádico! Estavam escritos lá todos os detalhes de todas as experiências sórdidas que ele fazia. Tudo registrado, o horror escrito.
     A questão agora era: Aqueles relatos eram reais ou apenas delírios daquela mente louca e depravada?
     Passei a investigar sobre a vida do Dr. Litz, e tentar entender o que se passava pela sua cabeça. O primeiro passo era encontrar o laboratório. Comecei pelos clichês de casas antigas com compartimentos secretos: Lareira, Porão, livros falsos na biblioteca empoeirada. Mas não encontrei nada. Resolvi dar uma volta pelo resto da propriedade, no terreno havia uma capela e um pequeno cemitério familiar, porém a única sepultura ainda fechada era a do Dr. Litz, as outras estavam abertas. Alguém deve ter transferido os corpos para outro lugar.
     Ao entrar na capela vi uma enorme cruz atrás do altar, ela deveria ser grande o suficiente para crucificar alguém. Aproximei-me dela e vi jogado ao seu “pé” dois cravos. Nos “braços” da cruz havia dois buracos, um em cada extremidade, como se alguém já tivesse sido pregado lá.
     Não pensei duas vezes, pus os cravos nos buracos que havia na cruz. Depois de ter feito isso, um alçapão se abriu por detrás do altar, o dia já estava acabando, mas mesmo com a pouca iluminação ambiente, dava para ver uma escada ali. Resolvi voltar para casa e esperar o Sol nascer para voltar ali.
     Fiquei tão ansioso, queria logo saber o que havia debaixo daquela capela. Nem dormi, passei a noite inteira lendo o diário do Dr. Litz. Aquilo que antes me parecia louco e depravado começava a me parecer inteligente e interessante.
     Ao amanhecer fui direto para a antiga capela, chegando lá desci pela abertura por de trás do altar. Fiquei pasmo, havia encontrado o laboratório secreto do Dr. Hanz Litz.
     Comecei a fuçar as coisas lá deixadas, e encontrei um livro, parecia uma ata ou coisa do tipo, nele havia registrado todas as experiências que o Dr. Litz havia feito. Ficava cada vez mais interessado no trabalho dele. Aquele homem, quem eu primeiro chamei de louco e depravado, havia se tornado, para mim, uma espécie de inspiração.
     Passei meses dentro da biblioteca estudando, tópico por tópico, cada uma das mais obscuras e ocultas ciências. Havia me tornado uma espécie de substituto do Dr.Litz, o maior fã dele, para ser sincero, o único fã.
     Continuei minha pesquisa lendo livros e o diário que havia achado. Em um dia de estudo, li um relato que me deixou encafifado: ”Eis minha obra-prima! Meus parentes, que outrora estavam enterrados no cemitério da família, agora caminham entre os vivos.”
     Teria o Dr. Litz conseguido reviver os mortos? Eu me perguntava. Olhei a data em que ele escreveu aquilo e procurei no livro de anotações, que havia achado no laboratório, o que ele fez naquele dia.
     Estava escrito lá que o Doutor havia conseguido fazer certa poção, ela a chamava de Reanimadora, que era capaz de reviver os mortos. ”Porém, os reanimados têm gostos peculiares, que assombrariam qualquer ser humano normal”. Disse o Dr. Litz em seus relatos.
     Fiquei muito empolgado com a tal Reanimadora, passei a tentar fazê-la, com ajuda dos relatos do Dr. Litz. Para minha sorte, ele deixou anotada a fórmula.
     Depois de meses de trabalho árduo consegui, enfim, fazer um pouco de Reanimadora. Fiquei tão excitado, agora só me faltava um cadáver. Mas onde eu acharia um sem levantar suspeitas?
     Tinha feito a parte mais difícil e não pararia nela. Arrumaria de qualquer forma um cadáver. Saí do laboratório, e, ao chegar ao cemitério, lembrei que o Dr. Litz estava ali enterrado. Nada seria mais justo do que usar sua invenção para revivê-lo.
     Desenterrei-o e o levei para o laboratório. Seguindo as instruções do próprio Dr. Litz, escritas em suas anotações, injetei cem mililitros de Reanimadora na sua espinha.
     Depois de ter feito isso, sentei-me e fiquei lendo as anotações do Doutor. Enquanto ele era reanimado, seu corpo ficava fazendo uns movimentos confusos e aleatórios, uns espasmos assustadores, porém animadores. Continuei lendo e deixei a magia da Reanimadora acontecer.
     Enquanto eu estava lendo, o Dr. Litz voltou à vida, e sem eu perceber veio caminhando na minha direção. Eu estava tão concentrado na leitura do último parágrafo que ele escreveu sobre as experiências com a Reanimadora que nem percebi que ele já estava “vivo”. Estava assim escrito: “Talvez este tenha sido meu maior erro, aqueles cadáveres reanimados não são como os realmente vivos, para ser mais preciso, os realmente vivos são o prato favorito dos reanimados. Eles voltam à vida, mas pagam o preço disso se transformando em canibais.”
     Voltei então minha atenção para o Dr. Litz, porém era tarde, ele já estava praticamente em cima de mim, cravando os seus dentes no meu pescoço...
     Reanimar o Dr. Litz foi o último e maior erro que eu cometi.


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